tudo que vejo

Dobrei uma camisa e percebi. Não teria mais como voltar.

Destruí qualquer ponte que pudesse me levar a você. Queimei todos mapas. Qualquer migalha do caminho virou alimento para os pássaros.

Já tem um tempo, mas só agora que realmente senti a porta fechada. Tranquei ela que nem faço com a porta da cozinha e o portão pequeno de casa - duas voltas da chave, para ter certeza de que, se alguém forçar, será mais difícil de abrir.

Volta e meia você me doía. E cheguei a sentir muita dor meses atrás. 

Gastei várias lágrimas, junto a noites em claro revivendo situações e criando cenários que não me levaram a lugar algum.

O que eu estava buscando? 

Segurei por muito tempo uma fagulha de esperança, mas só agora entendo que não teria o que fazer caso qualquer um dos meus sonhos relacionados a você se tornasse realidade. 

Meu inconsciente pode pregar a peça que quiser. 

Vazar assim fez com que abrisse um espaço que na verdade já estava vazio há muito tempo. Só faltava me dar conta disso.

A verdade é que não tenho forças para te deixar entrar na minha vida de novo, se não for para ficar.

A cada ano ímpar que nos encontramos, bem no fundo eu torço para que algo ilumine seus pensamentos e faça com que perceba que seu lugar é aqui. Mas isso nunca acontece.

Conversamos, mas discutimos. Brigamos, e voltamos a nos entender. Compartilhamos alguns dias e, inevitavelmente, nos afastamos novamente. 

Repito para mim que está tudo certo e é melhor desse jeito, mas volta e meia dói. E dói de pouquinho, o que deve ser a pior dor que existe.

Escuto uma música que foi lançada há pouco tempo, e me lembra você. Vou a um lugar que combinaria tanto com um fim de tarde contigo. Assisto um vídeo que faria sentido encaminhar apenas para você. Deito na cama à noite e te sinto ali, apesar de você nunca ter passado perto dela. A lembrança, no entanto, permanece presente.

Naquela noite acordei perdida de algum sonho, sem entender onde estava. Te vi dormindo ao meu lado, e pude me aninhar em você e voltar a dormir. Sabendo que aquilo não duraria muito, me permiti voltar para aquele momento.

Assim como me permito voltar nas lembranças agora, quando a saudade aperta. Por mais que isso me arrepie.

Coração acelera e nem sei bem o porquê. Talvez essa música me lembre de você. Assim como as outras 3 que escutei antes dessa.

É fácil demais ver tudo leve quando não realmente existe. Minha cabeça é ótima para criar os roteiros, mas será que você aceitaria o papel de protagonista junto comigo?

Me prendo nesse cenário de não saber ao certo qual é o próximo passo. Tantos rumos bons que eu não sei como avançar ao certo. 

Se fosse para errar com você ao meu lado, talvez não fosse de todo ruim. Algo no teu olhar que me passa uma certeza que nunca tive antes. 

A vista borra pensando melhor em cada coisa que ainda hesito em te perguntar. E por isso também deixo registrado aqui. Uma lembrança da madrugada do que estou sentindo nesse exato momento, saindo pelos meus dedos em menos de cinco minutos. 

Ficando guardado nos rascunhos, sabe lá por quanto tempo, até que eu me sinta confortável suficiente em apertar o publicar.

Parece que todo ano eu preciso fazer o balanço pré aniversário. Pois bem, aí vai o dos 25.

Vivi a maior parte desse tempo em casa. Nunca estive tão mergulhada em mim, apesar de já ser bem acostumada à minha companhia.

Aprendi a aproveitar meu tempo. Talvez não tanto as noites de sono, mas mantive as horas de descanso como pude.

Me joguei em histórias novamente. Filme, livro, série, livro, e mais série, das que estavam paradas na lista há séculos. 

Já minhas pesquisas, vou retomando aos poucos. Uma linha que surge, um áudio para salvar o trecho do sonho em meio a madrugada, uma página que a mão aguenta escrever sem a letra ficar horrível, uma foto no Pinterest que desenrola uma cena completa na cabeça. Não tenho pressa. 

Percebi que devo comemorar mais o que faço, mesmo que a dimensão do feito não seja extraordinária. 

Vi que tem gente que sai da vida. Entra de novo. E só fica se fizer sentido de estar ali. Em paralelo, teve gente que chegou de mansinho e também gente que meteu os dois pés arrombando a porta, sabendo que teria espaço. 

Valorizei pisar descalça na grama. Me arrependi um pouquinho depois, logo que a alergia começou a formigar os pés.

Presenciei o amor em tantas cenas. 

Respirei aliviada de saber que ter esperança nunca é desperdício. 

Descobri muita música boa. Sim, estou ansiosa pela retrospectiva do Spotify.

Cabelo viu tesoura de novo. Só assim para me reconhecer no espelho. 

Pensei melhor em novos horizontes. Me permito agora traçar planos em outros locais que fujam dessa cidade. Mesmo que nada seja concreto, dei uma corda a mais para esse lado.

Decidi que quero aprender outras línguas. Espero me confundir no futuro com cinco idiomas diferentes.

Quase 4 da manhã e o olho tá cheio de lágrima. Que bom que sempre é tempo de aguçar a percepção do mundo.

Pode vir 26. Sei que você vai ser incrível do seu jeitinho.

Existem pessoas que torcemos para que os caminhos nunca mais cruzem os nossos. 

Essa não é a questão aqui. Tanta coisa que eu queria te contar.

Fiquei doente umas 15 vezes nesse tempo. Mudei de casa e de emprego. Perdi o medo daquela série. Voltei a ler e a cozinhar. Deixei espaço no coração. 

Queria você acompanhando aquela tarde tirando coisas da caixa no meio da minha sala ainda vazia. Saindo para comprar uma cerveja na padaria, e acompanhando seu olhar arregalado pelo susto em perceber que agora eu bebia.

Ah, se fosse o orgulho que me impedisse de ligar para você nesse momento. Mas é o medo. Talvez você já tenha mudado de número. De país. Não tenho a mínima ideia de como anda a sua vida agora. Será que você me atenderia?

E então o medo me paralisa, enche o olhar de lágrima e me deixa só com a lembrança de como nossa amizade era boa.

Sonhei com você na última noite, mas a saudade não bateu só por isso. Nunca encontrei a naturalidade que nós tínhamos. E puxa, que falta isso faz! Conseguíamos falar sobre literalmente tudo. Isso fazia com que brigássemos por uma palavra também, que podia ser apenas mal interpretada ou bem escolhida para cair sobre uma ferida que o outro sabia como cutucar. Nada que durasse tanto tempo, nunca tivemos problema em pedir desculpas. E sempre aparecia algo impossível de não compartilhar.

Da última vez, não teve briga. Você tinha o seu ponto e eu o meu. Entendemos a ruptura que aconteceria ali. Você tinha razão sobre tudo que disse. Ainda assim esperava que não durasse tanto a sua ausência. 

Volta e meia converso só, monto a atualização que daria na próxima conversa, com mais detalhes do que coloquei aqui, até porque nossas conversas duravam horas. Penso no próximo passeio furado que combinaria com você. E no fim, sigo desejando que tudo esteja bem por aí. É a única coisa que ainda está a meu alcance.