E se?
10:20E se chovesse? E se eu não tivesse comido todo aquele
chocolate? E se aquele bolo na garganta não tivesse se dissolvido? Eu tomaria chuva para disfarçar as lagrimas.
O chocolate não teria me dado aquele enjoo terrível na manhã seguinte. Ah, e eu
teria uma boa noite de sono sem molhar o meu travesseiro.
E se eu não tivesse
ligado o meu celular naquele dia? E se eu ficasse na cama vendo meus filmes
preferidos? E se eu não tivesse aquele pesadelo horrível? E se, e se, e se?
São tantas possibilidades, tantas perguntas sem respostas,
tantas ideias do que poderia ter acontecido. Não é horrível perder o sono com
tudo isso? Pois bem, aqui estou eu mais uma vez, assistindo desenhos e tomando
chocolate, agarrada no notebook. Já passa das três da manhã e eu cansei de
virar na cama.
Odeio essa historia de meias-palavras, de machuca-e-assopra.
Tinha que ir até o fim no que você quer dizer, nada daquela coisa de falar
palavras que você pensava que eu queria ouvir. Porque eu, realmente, não queria
ouvir nada daquilo. Tudo aquilo não passa de um borrão sem sentido na minha
cabeça.
E você não faz ideia do esforço que eu tive que fazer pra
esquecer de tudo, fingir que foi apenas um sonho bem longo. Todo esse esforço
para você voltar com aquelas brincadeirinhas, sorrisinhos e mensagens que só
nos entendemos. Cara, como eu odeio tudo
isso! Essa coisa de você quase ler os meus pensamentos. Afinal, por que
outro motivo eu iria receber uma mensagem sua a esta hora? Hora de desligar o
celular e jogar ele pra bem longe.
Coloquei os meus fones de ouvido e deixei no aleatório. Island In The Sun, Weezer. Uma
das minhas musica preferidas, e a que estava tocando quando nos esbarramos pela
primeira vez. Ah se desse pra voltar no tempo e... não, próxima musica! Wouldn’t
It Be Nice, Beach Boys. O universo só
pode estar rindo da minha cara.
Não faço a mínima ideia do que esta passando na tv. O
passarinho das 4:30 começou a cantar. Começo a ouvir alguns carros passando
pela rua. Não da mais pra ficar aqui. Visto a primeira roupa que puxo do
armário. Escovo os dentes, tranco a porta do meu quarto e saio silenciosamente.
Sorte que é sábado e não
tem tanto transito ou tantas pessoas no ônibus. Destino? Não faço a mínima
ideia. Já desci de uns três ônibus, quando eu cansar, paro.
Desço no Brás pra comprar o meu croissant preferido naquela
carrocinha que fica em uma esquina. Dois de frango com catupiry, bem
quentinhos. Mais um pouco dentro de dois ônibus que eu nem sei o nome, e eu
cheguei na avenida paulista. Acho que este é o lugar perfeito. Acabei de passar
por uma vitrine e percebi que estou de calça jeans, sobretudo e All Star. Pelo
menos fui esperta o suficiente para colocar algo quente.
Ainda não esta totalmente claro, e nenhuma loja esta aberta.
Um grupinho de pessoas que parecem ter saído da Augusta passam por mim cantando
algo que se parece com Call Me Maybe. Rio e sento em um banco. Não é que eu
consegui tirar você um pouco da minha cabeça. Não foi tão difícil. Coloco a mão no bolso e percebo que o celular
esta ali. Não lembro de ter pego ele. Abro a mensagem, tem algo parecido a me desculpe, eu fui um idiota. Eu te amo.
E se isso não passasse
de um sonho?
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